quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Os capitães que afundam com o navio


Há alguns anos, a forma de editar livros mudou. Surgiu o computador, e com ele, os programas de texto. Não era mais necessário se guiar as etapas que, até então, norteavam essa atividade.

Só para relembrar alguns e informar outros: há 50 anos, usava-se os linotipos, ou tipos móveis. Depois, veio uma revolução, aproximadamente na década de 70/80. Naquela época, o autor escrevia um original, a mão ou na máquina de escrever. Depois, isso era transformado numa fotocomposição. Na sequência, em fotolito e, finalmente, ia para a impressão. Estamos nos referindo ao miolo do livro. A capa passava por mais estágios.

Então veio o computador. Todas as gráficas e editoras continuaram seguindo com sua rotina, pois o sistema operacional da maioria das máquinas era o DOS, que não tinha recursos suficientes para abalar aquele paradigma: originais -> fotocomposição -> fotolito -> impressão.

Poucos anos depois chegou o Windows (1) que, agora sim, tinha muito mais recursos para escrever textos e formatá-los, escolhendo fontes, disposição do texto, itálico, negrito, etc. Muitas gráficas e editoras se fingiram de mortos. E muitos profissionais também. Quando alguém tentava conversar com um profissional de fotocomposição para falar sobre o Word, e verificar se ele poderia fazer a digitação do livro em computador, a resposta era mais ou menos a seguinte:

- Ah, não sei de nada disso, não. Computador, Word, nem sei do que se trata. Eu faço é fotocomposição.

O resultado foi avassalador: muitas gráficas, pequenas, médias e grandes, fecharam. Os profissionais de fotocomposição simplesmente desapareceram no limbo. Foram subsituídos por profissionais de edição gráfica, os quais digitavam o livro num programa de texto a partir dos originais em papel e, depois, formatavam o texto no padrão livro.

O que impressiona é que profissionais e empresas que dominavam o mercado simplesmente continuaram seguindo adiante com a tecnologia antiga como se nada tivesse acontecido. Isso nos lembra a imagem de filmes antigos sobre aventuras (e desventuras) marítimas. O navio está afundando. Botes salvavidas são lançados. Um marinheiro diz ao capitão, que está em seu posto:

- Senhor, os barcos salvavidas já estão na água. Temos que ir!!

E o capitão, impávido, com o olhar fixo no nada, lhe responde:

- Pode ir, filho. Eu ficarei. O capitão afunda com o navio.

Isso ocorrerá muitas vezes ainda. Os novos paradigmas chegam e algumas pessoas ficam mentalmente acorrentadas ao paradigma antigo.

(1) Na verdade, o primeiro computador que fazia o que o Windows faz era o Macintosh, da Apple. Mas, ao contrário do Windows, ele não tinha a intenção de ser uma máquina para todos, mas sim para poucos. O Windows foi o sistema  operacional que já nasceu visando grandes mercados.


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