Créditos da imagem: Ambro / FreeDigitalPhotos.net |
Ao me ver na sala de espera de um consultório dentário, em ato reflexo, peguei uma revista da cestinha. Era uma dessas revistas de bordo, oferecidas em viagens aéreas. Logo me interessei por uma matéria sobre Linda McCartney, a precocemente desaparecida esposa do ex-Beatle Paul. Era sobre uma narrativa fotográfica que ela fizera da vida do casal.
A primeira página da reportagem pareceu interessante. Estava numa página ímpar, ou seja, à direita. Então virei a página para continuar a ler. Não havia mais nada! A "reportagem" era só aquela página: três fotos e dois parágrafos! Que decepção...
As revistas brasileiras, em sua maioria, seguem o modelo das revistas estadunidenses: muitas imagens, pouco texto. Pouquíssimas páginas. Os assuntos são tratados com a profundidade de uma poça d'água.
Certa vez um amigo meu, músico, foi para a Espanha, para tentar a vida lá (isso foi na década passada, quando muita gente saía do Brasil para tentar a vida na Europa). Ele é um violonista clássico, toca peças difíceis, algumas compostas por ele mesmo. Apresentou-se numa sala de espetáculos de lá. Para sua surpresa, conseguiu uma página inteira no jornal da cidade. O artigo descrevia, pormenorizadamente, cada um dos números que ele apresentou. Enquanto isso, nos EUA, uma apresentação de Caetano Veloso merece um retângulo de 4x3 cm com três linhas e meia. O mesmo acontece por aqui, exceto quando se trata de eventos como o Rock in Rio...
A desculpa de muitos editores é a de que "é o que o público quer" ou "este é o nosso estilo" ou, ainda, "nosso espaço é limitado".
Só que o público está ficando mais exigente. A internet é usada, cada vez mais, para aprofundar todos os assuntos e notícias. Se as revistas não mudarem de atitude, serão dispensadas pelos consumidores. Para quê vou comprar uma revista que tem uma "reportagem" de três parágrafos se posso saber muito mais sobre o assunto na internet, em geral sem pagar nada a mais por isso do que minha conexão?
O formato eBook pode, muito bem ser usado para uma revista. Ou para um gibi. Ou para um livro. Desconfio que, com o tempo, a diferença entre essas três categorias se tornará tênue. Muitos jornalistas, alheios a isso, seguem como se nada houvesse ocorrido nos últimos 20 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário