sábado, 5 de dezembro de 2020

A aversão à tecnologia

 

Imagem: Freerangestock/Nappy Studio - www.freerangestock.com

Há uma tendência entre pessoas com mais idade a rejeitar tecnologia. Quando eu era criança o telefone fixo residencial começou a se popularizar. Pouquíssimas pessoas tinham telefone em casa. E não se interessavam em ter. Por isso, a Telesp empresa de telefonia de São Paulo na época publicava anúncios nos jornais com o slogan: "telefone não é luxo, é necessidade". Muitos rejeitavam aquele "exotismo". Principalmente os mais velhos. Alguns diziam: "eu nunca tive telefone e nunca me fez falta".

Atualmente, ninguém mais acha que ter telefone é luxo. Ao contrário, conheço idosos que só tem o telefone fixo, não usam celular, muito menos computador ou internet. E a desculpa é a mesma: "não preciso de celular, nunca tive, e não penso em ter".

Este escriba tem 65 anos. E jamais pensei assim. Tenho celular, computador, tablet, mesa de desenho, notebook, kindle. Logo no início dos celulares, comprei meu tijolão com tela de cristal líquido. Até hoje lembro dele com gratidão.

Quando surgiram os computadores pessoais, comprei um usado, com tela de fósforo verde. Na época, fiquei maravilhado. Percebi que aquilo era um grande poder em minhas mãos. E nem existia internet!

Aliás, voltando no tempo, lembro-me da minha primeira máquina de escrever Lettera 22. Até hoje ela está guardada. Mesmo ela já era um poder. Com ela fiz um cartaz de um pequeno negócio que eu tinha. Tirei cópias e distribui pelo bairro. Sem ela, eu teria que escrever à mão, ficaria um cartaz muito tosco!

Um amigo meu tem o seguinte conceito: à medida em que não quisermos conhecer coisas novas, estamos velhos. Talvez não velhos de corpo, mas velhos de mentalidade. Digo isso porque conheço pessoas jovens que também não querem aprender nada novo. Tudo bem, é um direito de cada um decidir sobre sua vida. Mas cada decisão traz consequências. A decisão de não ter computador e não ter celular provoca isolamento, a não ser que a pessoa viva, digamos, numa comunidade de agricultores na qual ninguém tem celular nem computador.

A espécie humana é uma espécie gregária. Vivemos em sociedade. Se optarmos pelo isolacionismo tecnológico, a consequência pode ser o isolamento social.

A obra de arte tem vida própria

 

O músico Philip Glass disse que, a partir de um certo ponto, a obra de arte ganha vida própria. O artista está ativo, sim, mas a obra também está e muitas vezes é ela, a obra, que decide a direção a tomar e, por mais que o artista tente puxar a criação para um lado, a obra insiste para manter o outro rumo. Se o(a) artista teima em comandar a obra de arte com mão de ferro, o que ocorre é que essa obra acaba com uma qualidade menor.

Isso não vale só para a música, mas também para a pintura, cinema, literatura, enfim, para qualquer tipo de expressão artística.

Os gregos explicavam isso através do símbolo das musas inspiradoras, que ajudavam na criação de arte. Essa imagem poética faz sentido. O artista se conecta com energias sutis que acabam por influenciar fortemente a obra, mesmo que o(a) artista não tenha consciência disso.

É como comandar um navio em meio a correntes oceânicas. O capitão do navio sabe que se tomar determinado caminho que pareça mais reto e lógico, gastará muito mais combustível para sobrepujar as correntes. Melhor tomar um caminho sinuoso, mais longo, em que o navio dança de modo suave com essas correntes, ao invés de lutar contra elas.

A obra de arte é o resultado dessa integração entre o indivíduo o artista e a energia da obra. Dessa integração nasce uma obra que muitas vezes é maior que o artista. Essa é a verdadeira Obra de Arte, que merece ser escrita com iniciais maiúsculas.

Quando você estiver escrevendo seu livro, ou compondo sua música, lembre-se disso. A obra tem vida, e você deve dançar com ela.

 

Livro Svetlik, a Hippie de Boutique

A Editora Sucesso acaba de públicar o livro Svetlik, a Hippie de Boutique.

Este é um livro sobre a década de 70. Escrito e ilustrado por Emílio José Guimarães, ele é como que uma viagem no tempo para aqueles que viveram aqueles anos. A história se passa em 1978, e o autor descreve muito bem as turminhas da época, e o que elas "curtiam": LPs, fitas cassettes, revistas para jovens nas bancas de jornais, e rádios musicais.

Há também, claro, os ídolos da época. Desde ídolos nacionais, como Beto Guedes, Milton Nascimento e outros, até os Beatles, que foi um fenômeno único de impacto cultural mundial.

O rock está presente com força. As discussões filosóficas sobre a paz e amor, também.

Os mais jovens poderão vivenciar um pouco aquele mundo "antigo", sem internet, sem celulares, sem mp3. Nem mesmo os CDs ‒ hoje praticamente aposentados ‒ existiam naqueles anos em que as pessoas eram, talvez, mais sonhadoras, mais ingênuas (no bom sentido) e as relações interpessoais eram mais diretas, não tinham a intermediação dos meios eletrônicos.

 

 

Compor livros e criar imagens com Affinity

Os ventos estão mudando em muitos setores da sociedade. Não é diferente no mercado de softwares. Os grandes estão perdendo o poder, e os pequenos estão crescendo.

Esse preâmbulo algo dramático foi pra dizer que chegou o software Affinity ‒ na verdade um trio de softwares ‒ que aterrissou discretamente no mercado, mas que já deve estar deixando a Adobe preocupada. Falo do Affinity Publisher, um programa para diagramação, Affinity Designer, de desenho vetorial e o Affinity Photo, de edição de imagens.

E por que a Adobe deveria se preocupar? Pelo seguinte: o Affinity Publisher faz (praticamente) tudo o que o Adobe InDesign faz. A diferença é que o InDesign custa ‒ em valores de dezembro de 2020 ‒ U$ 49,99. Na data de hoje está com desconto, saindo por U$ 34,99. Já o InDesign custa de U$ 1.000,00 a U$ 4.000,00, dependendo do tipo de pacote adquirido. Ou melhor, agora a Adobe adotou o sistema de pagamentos mensais permanentes. A pessoa não compra mais o software, ela aluga. E, como sabemos, aluguel não acaba nunca. O melhor é casa própria. E a "casa" do Affinity Publisher custa U$ 49,99. Com direito a atualizações.

O Affinity Photo é tão bom quanto o famoso Adobe Photoshop, e também custa U$ 49,99. E o Affinity Designer (para imagens vetoriais) é talvez até melhor do que o Adobe Illustrator. Também pelo mesmo preço, se você não os encontrar com desconto.

Este blog não está recebendo nada por esta postagem. Não se trata de merchandising. Este escriba comprou o Affinity Designer e o Affinity Publisher. Estou impressionando com a qualidade dos dois. Isso foi a motivação para escrever estas palavras.

Há uma opção gratuita ao InDesign: é o Scribus(*). Infelizmente, a equipe do Scribus tem lá suas idiossincrasias (quem não tem) e não se interessa por colocar recursos importantes no Scribus. Para muitos, por causa disso, o Scribus não é uma opção.

Há muitas opções gratuitas ao Photoshop. As duas melhores são o Gimp e o Krita. Sobre eles, falaremos em outro artigo.


Termino lembrando que há também uma excelente opção gratuita e opensource de software para desenho vetorial: é o InkScape, velho de guerra, na sua nova versão. Se a sua proposta é um software estável e robusto, você não precisa colocar a mão no bolso. Use o InkScape. E vem em português do Brasil!

Enfim, amplie seus horizontes! Hoje, há opções para os softwares que antes dominavam o mercado. Não se deixe aprisionar pelo paradigma velho!

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* Pronuncia-se como se escreve. Não é uma palavra do inglês, e sim do latim.

Os erros que doem nos ouvidos

"Fui pegar ela no aeroporto."

"Vou vim amanhã."

"Traz um sanduíche pra mim comer."

Esses são erros comuns que vemos no português falado e até na língua escrita. Eles depõem contra quem os comete. Se alguém se declara, digamos, médico, e comete esse tipo de erro, dou-me o direito de ficar em dúvida se ele é um bom profissional médico.

Não somos perfeitos, todos erramos. Mas conforme o tipo de erro que alguém comete, revela-se algo sobre essa pessoa. Os erros de português dão-nos a impressão de que a pessoa não lê um livro há muito tempo. Se é um médico, advogado, engenheiro, fica a dúvida se ele ao menos lê os livros ligados à sua profissão, para se manter atualizado na área em que atua.

Sobre as três frases acima, a versão correta de cada uma é:

"Fui pegá-la no aeroporto."

O pronome oblíquo (no caso, o la) é a forma correta nesse caso. Além do mais, dá menos trabalho de dizer, pois é mais curto.

"Vou vir amanhã." ou "Virei amanhã."

Esse é o tipo de erro (vou vim) que denota pessoa de baixa cultura. A palavra vim é o passado do verbo vir Eu vim aqui ontem ‒ e não o futuro desse verbo.

"Traga um sanduíche pra eu comer."

O verbo no infinitivo comer ‒ é precedido do pronome pessoal eu. Seria diferente se a frase fosse "Estudar é uma alegria para mim" . Aqui o pronome mim está correto, pois não está precedendo verbo no infinitivo.

A melhor forma de estudar português é ler livros, sejam livros de autores brasileiros, portugueses ou livros traduzidos para o português.