Você já ouviu falar em Microficção?
Pode ser o embrião de uma carreira de escritor
Você já leu uma história tão curta que coube em uma tela de celular, mas que, minutos depois, ainda ecoava na sua mente com força?
"Quando pressionou o botão para apagar minhas memórias, ela esqueceu tudo, menos como encontrar o caminho de volta para mim. Agora, ela está aqui, de novo, com dor no peito, de ansiedade, com os mesmos olhos cheios de perguntas."
O que você acabou de ler é uma microficção.
Em poucas linhas, uma história nasce, se desenvolve e deixa um último ato implícito para a imaginação do leitor completar. Mas, afinal, o que é essa forma literária dos tempos contemporâneos, talvez decorrente da internet, que tem conquistado escritores e leitores nas redes sociais e antologias?
Mais do que um texto curto, um universo em miniatura
Microficção não é apenas um conto muito enxuto. É uma forma literária que exige precisão cirúrgica, na qual cada palavra é uma peça vital de um quebra-cabeça narrativo.
É a materialização do famoso iceberg de Hemingway: a ponta visível – o texto – é apenas uma fração da história. A grandiosidade, o contexto, a dor e a história estão submersos, sugeridos, convidando o leitor a se tornar coautor e imaginar o que não está escrito.
A microficção se adapta a diversos formatos, tais como:
Conto curto, com até 400 palavras. Um sprint narrativo;
Miniconto de até 100 palavras. O desafio começa a ficar sério;
Microrrelato de até 50 palavras. A precisão é fundamental;
Nanoconto de até 10 palavras. A forma mais pura e desafiadora; e,
Post de Instagram/Twitter. A brevidade é a alma do engajamento.
Quais são os pilares para um texto de microficção inesquecível? Como construir muito em pouco espaço?
A nosso ver, esses são os principais pilares que sustentam um bom texto de microficção:
Final Impactante – a última linha é a chave de ouro. Ela deve ressoar, surpreender, cortar o fôlego ou recontextualizar tudo o que veio antes. É o clique que dá sentido à imagem toda.
Sugestão, nunca a explicação – você dá as pistas, o leitor monta o quebra-cabeça. Evitam-se adjetivos demais e descrições longas. Confia-se na inteligência do leitor.
Um momento singular – foca m instante decisivo, um ponto de virada na vida de um personagem. Não se tenta contar uma saga, mas capturar o flash que talvez defina uma existência.
Título como parte da narrative – o título não é um rótulo. É a primeira linha da história. Pode criar contexto, ironia ou mesmo adicionar uma camada completamente nova de significado.
Por que todo escritor deveria praticar a Microficção?
Praticar a microficção é como um treino de alta intensidade para a criatividade na escrita e na vida.
Primeiramente, por se tartar de uma ginástica criativa, que teina a concisão, a escolha vocabular perfeita e a coragem de eliminar o supérfluo. Ensina que menos pode, muitas vezes, ser mais.
Em segundo lugar, a microficcção combate o bloqueio. Enfrentar uma página em branco para um romance pode ser, por vezes, assustador. Escrever uma história de 50 palavras não. É o exercício diário perfeito para manter a musa inspirada.
Além disso, a microficção pode ajudar na construção de público. É conteúdo perfeito para redes sociais. Um perfil com microficções interessantes atrai leitores, cria uma comunidade e constrói uma espécie de biografia de autor – antes mesmo do primeiro livro ser publicado.
Adicionalmente, para editores e preparadores de texto, a microficção é uma ferramenta incrível para ajudar autores a encontrarem o cerne de suas narrativas, aprendendo a cortar o excesso sem perder a essência.
Por fim: microficção pode produzir o embrião de grandes obras literárias. Pode gerar a semente que se desdobrará em belas narrativas.
Propomos aqui um desafio: considerar uma história infantil clássica (como Chapeuzinho Vermelho ou A Bela Adormecida) e recontá-lo em apenas 50 palavras, do ponto de vista do Lobo, no primeiro caso, ou do Príncipe que desperta sua futura esposa, no segundo. Pode ser muito divertido, ainda que não necessariamente fácil.
Em um mundo de excesso de informação e atenção fragmentada, o poder de uma história bem contada em poucas linhas pode ser valioso. E pensando bem, a microficção, longe de ser apenas algo decorrente da internet e das redes sociais, é a prova incontestável de que não precisamos de mil páginas para tocar o coração humano. E de que algo conciso pode ser a semente de algo grandioso.

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